Comércio de bebês

Esta página reúne dados para retomar e fomentar o debate acerca do tráfico de bebês brasileiros para adoção irregular por famílias estrangeiras, num esquema ativo nos anos 1980.

Uma história brasileira

Nos anos 1980, em meio a casos frequentes de desaparecimentos de crianças, uma quadrilha roubava recém-nascidos de maternidades e aliciava famílias pobres para vender seus bebês por valores simbólicos. As crianças, então, eram levadas para fora do país e adotadas por famílias que chegavam a pagar até US$ 50 mil. 

Na maioria dos casos, os pais adotivos não sabiam estar fazendo parte de um esquema ilegal - queriam apenas adotar um filho. No Brasil, as famílias diziam desconhecer que os filhos seriam vendidos.

Hoje, os adotados têm cerca de 40 anos e buscam suas origens, mas só encontram dificuldades porque os papéis eram falsificados com o envolvimento de policiais federais, juízes, juizados de menores, profissionais de saúde em maternidades etc. O nome mais conhecido do esquema é o de Arlete Hilu, que chegou a ser condenada e presa. 

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Arlete Hilu em 2016, em entrevista à Record TV

Pode [me] chamar de traficante de crianças, sim. Eu [digo]: 'Olha, fui traficante de crianças e essas crianças estão ma-ra-vi-lho-sa-men-te bem' [risos]

Arlete Hilu, traficante confessa de bebês, em entrevista de 2016

>> Assista à entrevista completa (Repórter Record Investigação)

O esquema, bem resumido

O quê?

Nos anos 1980, bebês eram sequestrados e 'comprados' de famílias vulneráveis para serem  vedidos por milhares de dólares a famílias no exterior, ávidas mas impossibilitadas de ter filhos naturais. Só em Israel estima-se que 3 mil crianças tenham sido adotadas por meio do esquema.

Quem?

O principal nome da quadrilha responsável por dezenas de milhares de casos é o de Arlete Hilu, que foi condenada e presa duas vezes mas continuou agindo. Em seu último aparecimento público, em 2016, ela confessou e debochou do rótulo de maior traficante de crianças da história.

Como?

Para funcionar, o esquema envolvia propinas a juízes, policiais federais, juizados de menores, cartórios, advogados, profissionais de saúde em maternidades etc., que agilizavam os processos de adoção e a emissão de documentos para que a quadrilha pudesse tirar as crianças do país.

Onde?

A quadrilha começou a agir em Curitiba (PR) e a maior parte das crianças era dos estados do Sul do Brasil, onde os criminosos podiam encontrar bebês com traços europeus, brancos, de olhos claros etc. Houve também casos no NE, SE e CO. As crianças eram levadas para Israel e países europeus.

'Comércio de bebês' parece ser uma expressão forte demais.

Apesar disso, nada é mais fiel à realidade de uma história bem brasileira. Não se trata, também, de uma frase nova. Uma extensa reportagem publicada em 1987 na revista Veja apresentava estas palavras em sua capa, estampada sobre a foto de um bebê coberto, apenas com os olhos de fora, como que amedrontado.

A matéria contava uma história que estava na boca do povo naquela época: o sequestro, tráfico, retirada ilegal do país e adoção de bebês nascidos no Brasil por famílias estrangeiras. Hoje, com a vantagem que o distanciamento que 40 anos dá, suspeita-se que cerca de 12 mil crianças teriam sido vítimas destes crimes praticados especialmente (mas não de forma única) por uma quadrilha liderada por uma mulher que se apresentava ora como advogada, ora como contabilista, por vezes como assistente social ou "curadora especial de menores", às vezes como enfermeira: Arlete Honorina Vitor Hilu.

Os bebês não eram as únicas vítimas: famílias biológicas, vivendo em geral em situação de vulnerabilidade, eram aliciadas para vender ou doar as crianças. Recebiam valores simbólicos por bebês que seriam vendidos por dezenas de milhares de dólares. Recém-nascidos eram também subtraídos de maternidades para serem levados para fora do Brasil.

O esquema criminoso tinha desdobramentos impensáveis. Em um dos casos, uma menina adotada por um casal israelense, depois de ser sequestrada de sua casa em Curitiba, foi retornada ao Brasil depois de uma disputa travada na Corte Suprema do país no Oriente Médio, que decidiu em favor da mãe biológica.

Também é uma história que reflete os profundos problemas sociais do Brasil, como a vulnerabilidade e a pobreza que levam famílias a abrir mão de filhos por alguns trocados. Trata também da dificuldade que a sociedade brasileira tem de enfrentar corajosamente temas como aborto, suporte familiar,  

A ideia desta página é reunir dados, relembrar casos relacionados e retomar e fomentar o debate acerca desta história brasileira.